Thursday, November 13, 2008

Amor, O Terrível

"Tenho um coração nas mãos e não sei o que fazer com ele. Neste preciso momento, ambas as hipóteses são a considerar: fechá-lo de castigo num quarto escuro ou, antes pelo contrário, atirá-lo ao ar em malabarismos de alto risco e ficar a ver onde vai calhar. (...)
O coração rebola, aos tombos. Bate em todas as esquinas, amachuca-se, está todo amolgado, coitadito. Um lixo lixado. Dizem que é reciclável. Em qual dos ecopontos devo enfiá-lo? No do papel, no do plástico, no das garrafas? Escrevo-o, embalo-o, bebo-o? Não, talvez guardá-lo, para mais tarde recordar. Posso levá-lo ao Hospital das Bonecas, a ver se o consertam. Pois assim como está, não está em estado de se apresentar a ninguém. Talvez exista uma sessão dos Corações Anónimos, em que possa conhecer outros que, como ele, se entregaram ao vício desregrado. Olho para ele e ele olha-me, como uma criança mimada a quem tivessem roubado o chupa–chupa, mais o pai e a mãe. É para aprenderes que sou eu que mando. Não vais brincar. Agora ficas de castigo, a olhar para o dia de amanhã. E repetes, até acreditares nisso, o que dizia a Scarlett O’Hara, com Tara a arder e o juízo um pouco chamuscado: “After all, tomorrow is another day!” Published by Catarina Portas, luxfragil n.2, November 2008

2 comments:

--- avião de papel --- said...

(:

olá lena* agra vou (per)seguir o teu blog ;)

beijinhos espero q esteja tutti benne!

KOKESHI PUPPET said...

hope you enjoy!
kiss kiss Joanita ;)